[MÚSICA] [MÚSICA] Se o Aedes aegypti saiu da África para o mundo, chegando por último na Ásia, o Aedes albopictus começou pela Ásia e de lá veio para o resto do mundo, incluindo o Brasil, e isso aconteceu bem recentemente. Nós estimamos que ele tomou o mundo nos últimos 30 a 40 anos, e nesse pouco tempo já está entre as espécies invasoras mais bem sucedidas no mundo, se espalhando por todos os continentes menos a Antártida. Por aqui no Brasil ele foi detectado pela primeira vez no Rio de Janeiro, 1987, muito provavelmente vindo da Ásia. Apesar desse mosquito se espalhar tão recentemente, o Aedes albopictus, ou mosquito tigre asiático, é muito preocupante, por ter ocupado uma área tão grande e por ser vetor competente de vários vírus. Nós sabemos que ele pode transmitir muito bem o vírus da dengue e o Chikungunya, e ele também foi implicado como transmissor de Zika no Gabão e Singapura. Essa vocação para transmitir esses vírus também varia de acordo com linhagens locais do mosquito. Aqui no Brasil, por exemplo, ele chegou a ser testado e se mostrou capaz de transmitir o vírus Zika, mas ele é menos eficiente do que o Aedes aegypti. E fora do laboratório, por aqui, ele não foi observado transmitindo Zika. Relação ao Aedes aegypti, o Aedes albopictus é mosquito mais suburbano, que habita mais essa região entre cidades e as matas. Mesmo assim, ele também se domesticou e também consegue se reproduzir recipientes artificiais como potes plásticos e entulho. E a fêmea tem comportamento também pouco mais selvagem relação à preferência por sangue, já que ela pica mais durante o dia e se alimenta mais de outros mamíferos, além de se alimentar dos humanos. Aliás, dependendo das condições, as fêmeas do Aedes albopictus podem se alimentar de aves, répteis e até anfíbios, o que aumenta as chances desse mosquito transmitir as zoonoses que nós citamos no começo do curso, que é quando vírus de outros animais salta pra humanos. Isso também aumenta as chances dele sobreviver vários tipos de ambiente, já que tem mais opções para se alimentar. E, felizmente, diminui pouco o risco de espalhamento de viroses humanas, já que o Aedes aegypti tem uma preferência maior pelo sangue de pessoas, passa mais tempo ambientes urbanos e também se alimenta mais frequentemente de várias pessoas repetidamente. Originalmente, ele era tido como competidor do Aedes aegypti, mas o Aedes albopictus se tornou mais preocupante para alguns países, quando a gente viu ele ser muito eficiente como transmissor de Chikungunya e quando ele começou a ocupar ambientes mais extremos e mais frios do que o aegypti. O Aedes albopictus consegue ficar inativo períodos mais frios e volta à atividade quando esquenta novamente, e os seus ovos podem ficar dormentes e continuar viáveis mesmo condições mais frias. Por causa disso, apesar de precisar de locais com mais água do que o Aedes aegypti para poder colocar os ovos, o Aedes albopictus consegue enfrentar inverno mais severo e consegue habitar regiões mais ao norte e mais ao sul, e por isso é mais preocupante para os europeus e para os americanos. Na Itália, por exemplo, ele foi o vetor primário do surto de Chikungunya de 2007 que atingiu o nordeste do país. Se nós lembrarmos do mapa de ocorrência do Aedes aegypti e agora dermos uma olhada no mapa da possível ocorrência do Aedes albopictus, fica fácil de ver que ele não é tão concentrado nessas áreas mais quentes. Dos motivos é que o Aedes albopictus é mais dependente de chuvas e depende de mais umidade para poder se reproduzir, mas ele também pode ocupar essas regiões mais frias. Tanto ao sul do Hemisfério Sul, cobrindo o sul do Brasil, da Argentina e até o Uruguai, quanto mais ao norte do Hemisfério Norte, atingindo boa parte dos Estados Unidos, do Canadá e alguns países europeus como Itália, Espanha, França e até Portugal. E como o maior influenciador dessa distribuição é a temperatura e nós estamos passando por período de alterações climáticas e aquecimento provocado pelo ser humano, como é o caso do aquecimento global, a gente pode esperar que esse alcance aumente ainda mais com o tempo. Graças a esse espalhamento rápido, esse alcance regiões mais frias, e a capacidade do Aedes albopictus de vetorar várias doenças como dengue, Chikungunya e Zika, ele é uma preocupação crescente no mundo inteiro. Por aqui, ele tem o potencial de se tornar vetor muito importante caso a gente elimine só o Aedes aegypti. Por isso mesmo, entre as estratégias de combate ao mosquito da dengue, também precisamos pensar formas de nos protegermos de mais de mosquito vetor por aqui. [MÚSICA] [MÚSICA]